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Samba do futebol doido
Fonte: O Estado de S.Paulo ![]() ANTERO GRECO - O Estado de S.Paulo
O jornalista e escritor Sérgio Porto escreveu, sob o pseudônimo de seu alter ego Stanislaw Ponte Preta, o Samba do crioulo doido, paródia à salada de temas dos sambas enredos dos carnavais cariocas. A música foi lançada nos anos 1960 e virou clássico, síntese de um Brasil que se amarra numa bagunça. Lembra dela? Começava com: "Foi em Diamantina, onde nasceu JK, que a princesa Leopoldina arresolveu se casar." Autor e obra continuam mais atuais do que nunca - e, como prova, basta pegar o calendário do futebol destas bandas. Sério, dê uma espiada no que nos reserva a programação elaborada pela CBF e veja se Sérgio/Stanislaw está ultrapassado. A Série B teve a segunda rodada ontem, a divisão principal prevê sete partidas hoje, uma amanhã e as duas restantes em junho. Ao mesmo tempo, nesta noite teremos o Fluminense em mais uma definição na Libertadores, no duelo com o Olimpia em Assunção depois do 0 a 0 da semana passada. O Atlético-MG entra em campo amanhã para pegar o Tijuana. Muito bem. Enquanto a bola leva bordoadas e carinhos nessas três competições, no final da tarde de ontem os jogadores convocados por Luiz Felipe Scolari se apresentaram, no Rio, para os treinamentos iniciais para a disputa da Copa das Confederações. No domingo, tem mais uma rodada do Brasileiro, mas só depois do amistoso com a Inglaterra, no Maracanã. Situação esdrúxula, e não há como convencer os gringos de que isso é possível, porque na terra deles a coisa funciona da seguinte maneira: tem jogo da seleção nacional, mesmo amistoso, os campeonatos param. Simples, né? Não aqui. Você vai dizer que não tem novidade nenhuma, pois disparate semelhante já aconteceu centenas de vezes - e concordo. Nem por isso, a gente deve considerar normal, aceitável e digerível uma esculhambação do gênero. Se está na moda alegar profissionalismo, então é obrigação de quem se ocupa de esportes abordar o tema e ressaltar a insensatez de tal comportamento. Amadorismo de grosso calibre. A CBF, com a conivência, medo ou omissão dos clubes, pouco se lixa para os torneios que promove. O negócio dela é a seleção. Com a amarelinha, fatura alto, fecha grandes contratos de publicidade, gira o mundo, enche o cofre. As equipes domésticas ficam em segundo plano - e não me convenço do contrário. Elas que se virem. Não está errado cuidar da seleção. Embora a tendência mundial seja, sempre mais, a de prevalecerem os times, é bacana ter um grupo que representa o país. Ainda mais em Copa do Mundo. A falha e o descaso se revelam quando as agremiações se veem obrigadas a abrir mão de seus principais atletas só porque tem jogo do Brasil. Com os prejuízos que vêm de brinde. Mas cadê peito para enfrentar a vontade maior? O máximo que conseguem é atrasar por um dia ou dois a cessão do jogador. Pegue o exemplo do Neymar. O moço quase vestiu mais vezes a camisa verde e amarela, nas últimas duas temporadas, do que a do Santos. Teve de marcar presença até em caça-níqueis chinfrins como aqueles superclássicos da América (com a Argentina) ou amistosos contra uns adversários pernas de pau. E o Santos? O Santos ficou a ver navios. Agora que ele vai para o Primeiro Mundo, vira chique e só sairá nas datas em que o Barcelona não tiver como negar, naquelas tais datas Fifa. Por essas e outras, o público desconfia da seriedade dos cartolas, os clubes ficam na pindaíba e os estrangeiros levam quem eles quiserem. É um enorme samba do futebol doido. Perigo. O Flu prega sustos na torcida, na edição atual da Libertadores. O mais recente foi o empate como mandante diante do Olimpia. O time paraguaio pode não ser extraordinário, porém não é galinha morta e joga em casa. Ou a turma de Abel Braga joga com atrevimento ou a semifinal será outro sonho perdido. O futebol brasileiro começou como favorito em 2013, e pode ficar só na vontade. Flu e Galo são a salvação da lavoura. |
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