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Polícia

 
 
O Soldado convalescente e o Major mandão
Por Rodrigo Rocha*

Coluna Política - Rodrigo Rocha

Era uma vez, uma tropa (tropa é pejorativo, mas segue a história...) que viajou para “Salvador - Bahia, território africano, baiano sou eu, é você...” com o fito de trabalhar no Carnaval, tendo por missão o intento de servir e proteger a sociedade. Os soldados quando se formam fazem juramento de "defender a sociedade mesmo com o risco da própria vida", já já conto que no caso de hoje foi com risco da própria vida mesmo! Os oficiais, “seres superiores” (apenas no plano funcional, pois os seres humanos são iguais em direitos e obrigações, pelo menos no “dever ser” e fora das muralhas dos quartéis), fazem um juramento diferente, de cumprir as missões inerentes ao oficialato, mas não juram defender quem quer que seja com o risco da própria vida (bom pra eles!).

Pois sim, o folião se diverte, dança “lepo lepo” e a PM garante a segurança, dentro das possibilidades e limitações que possui. O valor da hora de trabalho do PM é baixo, cerca de 15 reais, o lanche nem sempre é bom (não se pensa por exemplo no diabético ou no hipertenso, refrigerante, sucos com açúcar e conservantes!), as escalas exorbitantes, os alojamentos ruins, muitas pessoas por metro quadrado, calor, gente chegando a toda hora, uns saindo outros chegando de serviço.
Mesmo assim, diante de todas essas consternações tudo seguia normal, ou quase, na Piedade, até que um jovem Policial começa a passar mal. Primeiras horas da terça-feira, dia 04 de março. Os PMs eram comandados por um certo Major mandão, que informado sobre a dificuldade do Policial, recomendou apenas que o mesmo descansasse, “relaxasse”. Tempos depois, o PM vai ao posto médico e constata que sua pressão arterial estava alta, muito alta. Então, a política é manter o descanso, com o passar mal seguido, nova ida ao socorro médico, e o Policial continua a passar mal. Dessa vez, existe um atestado dizendo “repouso absoluto”. Entra em cena o Major mandão, que de forma contundente não atendeu aos clamorosos pedidos de sua “trooopa” para que o adoecido regressasse à Vila Militar, onde estava alojado (pessimamente alojado)para cumprir o repouso absoluto recomendado pelo atestado médico.
Tudo bem que o Policial, praça, defende a sociedade mesmo com o risco da própria vida, mas no caso, não precisava tanto, não precisava permanecer no posto policial aguardando a condução que levaria os seus pares, quando do término do serviço. Os Comandados não acolheram a “determinação” do Major mandão. Foram solidários, não tendo autorização para que a viatura conduzisse o colega convalescente, juntaram dinheiro, parte do que receberam pelo honroso serviço do carnaval, e pagaram um taxi. Isso mesmo, “vaquinha” para um taxi que levasse o adoecido até o alojamento, para uma tentativa de repouso absoluto num lugar que  acomoda dezenas de homens. O vídeo no “bocaonews” e em tantos blogs, sites e nas redes sociais dão conta dessa lastimável passagem da vida do Policial.
Mas essa história não acabará mal para o Soldado. Ora, um Coronel Humanizado, cristão talvez, acolheu o adoecido em seu lar, oferecendo-lhe tratamento digno. O mesmo oficial, mais polido, pediu ainda que todas as testemunhas fossem ouvidas em termo, para que dissessem tudo que o Major mandão mandou.
Os Praças unidos triunfaram, o PM foi socorrido e conduzido para repouso, graças à ação coletiva, pois se fosse pelo mandão, o Soldado esperaria o ônibus e retornaria junto com os demais. O revanchismo tem de acabar. A superioridade dos que mandam é apenas funcional, muitos dos mandões poucos estudaram na vida, o nível superior de alguns é o curso da academia, bacharelado em Segurança Pública. Esse mandado que escreve é bacharel em Direito, especialista em Direito Público e Privado, Mestre em Cultura e Turismo, está professor universitário, está Soldado da Polícia Militar, só um por exemplo, para dizer que os mandões são superiores no plano funcional apenas dentro da instituição.
Agora, 17 horas do dia 05 de março o Soldado passa bem. Sua esposa irá em instantes encontrá-lo. A entidade que o Policial é filiado, Aspra, acompanhou as oitivas das testemunhas, que já assinalam que o mandão mandou, mas mandou errado. Tudo será apurado. Vai ver que é por isso que o cantor diz na música que, “Atenção! Sentido! Não faz sentido” (O exército de um homem só – Engenheiros do Hawaii). É o militarismo um limitarismo? De repente sim... o legislativo um dia vai confirmar o que a sociedade já diz, e que os PMs timidamente tentam dizer.
Lima, estamos com você!
“Alô Estado! Não quero ir ao carnaval trabalhar e ainda assim ser muito mal tratado”. Salário mais digno. Alojamento mais digno. Alimentação mais digna. Tratamento mais digno. Para não dizer que não falei das flores: “Mais humanismo, menos militarismo”.
 
Rodrigo Rocha
* Rodrigo Eduardo Rocha Cardoso
Soldado da Polícia Militar (PMBA)
Coordenador da ASPRA BAHIA - Regional Itabuna
Professor Universitário (FTC - Itabuna)
Bacharel em Direito (FTC)
Especialista em Direito Público e Privado (FTC)
Mestre em Cultura e Turismo (UESC)
 
 
 

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